Endocrinologia geral Patricia Baines Endocrinologia geral Patricia Baines

Nódulos de tireoide

Os nódulos de tireoide têm se tornado muito frequentes nos últimos anos. Pela palpação da tireoide, apenas 4 a 8% dos nódulos são identificáveis, mas, em exames de ultrassonografia (USG), até 67% da população apresenta nódulos.

tireoide palpacao.jpeg

A maioria dos nódulos de tireoide é benigna. A incidência de câncer de tireoide em pacientes com nódulos, independente de quantos estão presentes e se o nódulo foi palpável ou não, é de 9 a 13%.

Mas, alguns fatores na história do paciente ou exame físico sugerem maior risco de malignidade:

- história de radioterapia na cabeça ou pescoço

- história de radioterapia para transplante de medula óssea

- história familiar de câncer de tireoide

- exposição a alguma radiação ionizante

- crescimento rápido do nódulo ou rouquidão (o nódulo pode acometer o nervo da corda vocal e causar rouquidão)

- linfonodos aumentados na região cervical lateral (região que drena a tireoide, pode ter metástases do câncer)

- nódulo não móvel à deglutição (isso indica que ele está fixo aos tecidos ao redor, mais agressivo)


Algumas características do nódulo à USG também podem ser indicativos de nódulos malignos:

- presença de microcalcificações

- nódulos hipoecogênicos

- ausência de halo ao redor do nódulo

- vascularização aumentada no centro do nódulo, ao doppler

- margens irregulares e pouco definidas

- nódulo maior que 1 cm, principalmente se maior na altura que comprimento

usg tireoide.jpeg

E o que fazer agora que tenho nódulos na tireoide?

Os nódulos menores que 1 cm sem outras características sugestivas de malignidade na história, exame físico ou USG, não precisam ser investigados. Uma pessoa pode ter o nódulo na tireoide para sempre, sem que isso acarrete comprometimento de qualquer função do organsimo.

Mas, se há qualquer outra característica que leve a pensar em malignidade, deve ser feita a punção do nódulo (PAAF - punção aspirativa por agulha fina). A punção é o exame que retira uma porção do nódulo para ser analisada microscopicamente e possibilitar a definição diagnóstica, como uma biópsia.

Feita a punção e a análise das células, muitos resultados são possíveis. A conduta a ser tomada depende desse resultado.

1. não diagnóstico ou insatisfatório - o nódulo pode ter poucas células, que não foram suficientes para análise adequada; ou o médico que realizou o exame não conseguiu fazê-lo adequadamente. Nesse caso, o exame deve ser repetido.

2. nódulo benigno

3. atipia de significado indeterminado ou lesão folicular de significado indeterminado - o nódulo folicular é o único que não pode ser definido se maligno ou benigno pela PAAF. O que determina a benignidade é o tipo de cápsula do nódulo, que pode ser vista macroscopicamente. Ou seja, o paciente deve ser submetido a cirurgia e, durante o ato cirúrgico, a cápsula é analisada e o nódulo definido como benigno ou maligno

4. suspeito para malignidade - o risco é muito alto de ser um nódulo maligno e o paciente deve ser operado

5. nódulo maligno - trtatamento definitivamente cirúrgico

Atualmente, estão disponíveis testes moleculares para ajudar na avaliação de risco de malignidade do nódulo. Eles são indicados, principalmente, no caso de resultado como o item 3 acima (atipia de significado indeterminado ou lesão folicular de significado indeterminado). O teste pode indicar maior probabilidade de o nódulo ser maligno ou benigno pela presença de mutações genéticas. O resultado positivo do teste indica malignidade, mas o resultado negativo não afasta.

 

Qual o tratamento para os nódulos de tireoide?

Não há medicamentos para os nódulos de tireoide.

Se o paciente tem um nódulo benigno, nada precisa ser feito. Apenas seguimento com USG anual. Se o nódulo não crescer durante o seguimento, não é necessário mais nenhum exame. Mas, se o nódulo apresentar um crescimento maior ou igual a 20% em um ano, uma nova PAAF deve ser feita para garantir que o nódulo é benigno mesmo. Um nódulo benigno não vira maligno. Mas, raramente, pode ter ocorrido um erro na análise inicial e o nódulo não ser verdadeiramente benigno.

O nódulo maligno é o câncer de tireoide e deve ser sempre operado e seguido com muito cuidado, para evitar metástases ou recidivas. Para saber mais sobre o câncer de tireoide, clique aqui.

Leia mais
Endocrinologia geral Patricia Baines Endocrinologia geral Patricia Baines

Obesidade

A obesidade é uma grande preocupação no Brasil e no mundo, devido ao aumento crescente de pessoas com excesso de peso. Ela traz um grande impacto à saúde pública, por ser um importante fator de risco para outras doenças que comprometem a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem no mundo, atualmente, 1,6 bilhões de pessoas com mais de 15 anos acima do peso, sendo 400 milhões de obesos. A estimativa para 2015 é que haja 2,3 bilhões de indivíduos com excesso de peso, sendo 700 milhões de obesos. Segundo evidências, a obesidade ultrapassará o tabagismo como maior causa de morte evitável no mundo.

No Brasil, dados de 2008 mostram que 50% dos homens estão acima do peso, sendo 12,4% obesos e, entre as mulheres, 48% têm excesso de peso, com 16,9% obesas. Avaliando crianças e adolescentes, há excesso de peso em 33,5% das crianças de 5 a 9 anos e 21,5% de 10 a 19 anos.

O perigo da obesidade é o risco do paciente desenvolver hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia (alteração do colesterol), doenças articulares, diferentes tipos de câncer, entre muitas outras complicações.

Os fatores genéticos e as mudanças de estilo de vida no mundo moderno, com piora do comportamento alimentar, sedentarismo, urbanização, condições de trabalho, são os fatores responsáveis por fazer da obesidade uma epidemia mundial.

obesity.jpeg

 

Como é definida a obesidade?

A obesidade é definia pelo índice de massa corpórea do indivíduo (IMC), que é calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado - IMC = peso/(altura x altura) expresso em kg/m2

Classificação de acordo com o IMC

  • 18-24,9 normal
  • 25-29,9 sobrepeso
  • 30 ou > obesidade
    • 30-34,9 obesidade GI
    • 35-39,9 obesidade GII
    • 40 ou > obesidade GIII

O IMC é de uso prático, simples, com bom valor para diagnóstico e prognóstico. Mas pode ter valores superestimados em indivíduos com muita massa muscular, por exemplo. O mais indicado é associar o IMC à medida da circunferência abdominal, que não deve passar de 80-88 cm em mulheres e 94-102 cm em homens, segundo critérios para definição da síndrome metabólica (ver aqui).

 

O que causa a obesidade?

A obesidade é um desequilíbrio entre a entrada de energia e o gasto calórico. Em pessoas geneticamente mais susceptíveis, o organismo é mais preparado para se defender de situações de privação de calorias, acumulando mais energia quando há uma ingestão calórica aumentada.

Ou seja, há pessoas que têm herança genética para obesidade. Mas o ganho de peso ocorre quando a ingestão de calorias é maior do que o corpo necessita, acumulando-se no tecido adiposo.

As mudanças sociocomportamentais da população estão associadas ao aumento da ingestão alimentar, com diminuição do número de refeições realizadas em casa, mais refeições em fast food e aumento do tamanho das porções. Além disso, a necessidade de realizar refeições em curto espaço de tempo atrapalha os mecanismos de sensação de saciedade.

A privação do sono e de atividades de lazer também pode resultar em alterações comportamentais relacionadas ao hábito alimentar, em que a sensação de prazer e recompensa com o alimento se sobrepõe ao sistema que regula a necessidade de energia do organismo.

 

Quais são as doenças causadas pela obesidade?

A obesidade está relacionada ao desenvolvimento de muitas doenças:

  • Diabetes mellitus tipo 2 (leia mais aqui)
  • Doenças cardiovasculares:
    • Hipertensão arterial
    • Doença arterial coronariana (angina, infarto)
    • Insuficiência cardíaca
    • Embolia pulmonar
    • Acidente vascular cerebral (derrame)
  • Cânceres:
    • Mama
    • Intestino e reto
    • Endométrio
    • Esôfago
    • Rins
    • Ovários
    • Pâncreas
    • Próstata
  • Asma
  • Apneia do sono (leia mais aqui)
  • Cálculo biliar (“pedra na vesícula”)
  • Artrose de coluna, quadril, joelho, tornozelo e pé 
  • Lombalgia crônica
  • Doença hepática gordurosa não alcoólica (“gordura no fígado”)
  • Etc

A obesidade é associada, também, a manifestações psicológicas e mudanças comportamentais e sociais, levando a baixa autoestima, transtorno compulsivo alimentar, depressão e ansiedade.

 

Qual é o tratamento para obesidade?

O tratamento para a obesidade é a perda de peso. Considera-se uma perda eficaz de peso quando o indivíduo perde 5% do peso corporal.

Recomenda-se, sempre, mudanças de estilo de vida para que haja a perda de peso. O paciente sempre deve melhorar a alimentação e fazer atividade física, para que haja um balanço energético negativo. A diminuição de 500 calorias no consumo diário pode levar à perda de 500g por semana, equivalente ao esforço de uma caminhada de uma hora por dia. A perda de 500g a 1kg por semana é considerado um bom resultado.

A mudança na alimentação deve ser sempre acompanhada por endocrinologistas e/ou nutricionistas e nunca baseada em dietas da moda. Existem inúmeras tipos de dieta: dietas de baixas calorias, dietas de muito baixas calorias, dietas hiperproteicas, dietas com restrição de algum macronutriente, etc.

Os estudos a respeito de dietas alimentares mostram que, em geral, qualquer tipo de dieta resulta na mesma perda de peso ao longo de 12 meses. As dietas com muito baixas calorias têm a perda mais rápida de peso incialmente, ao redor de 1,5 a 2kg por semana, mas têm um índice de reganho muito maior se não forem adequadamente acompanhadas por um especialista.

O fator mais determinante do resultado da dieta, segundo os estudos, é a frequência com que o paciente é acompanhado pelo médico ou nutricionista.

Se essas medidas não são suficientes, há necessidade de uso de medicações e, na falha dessas, o tratamento cirúrgico pode ser indicado (leia aqui).

Além disso, deve ser feito o tratamento de todas as comorbidades que o paciente apresente.

Leia mais
Endocrinologia geral Patricia Baines Endocrinologia geral Patricia Baines

Lipodistrofias

O que são lipodistrofias?

As lipodistrofias são um grupo de doença muito pouco conhecido pela população em geral e por muitos médicos, também. Lipodistrofia é a perda de tecido adiposo em determinado local do corpo. Ela pode ser adquirida ou familiar, generalizada ou parcial.

Atualmente, é dito que o tecido adiposo é o maior órgão endócrino do corpo e, por isso, a lipodistrofia faz parte das doenças tratadas por endocrinologistas.  O tecido adiposo produz inúmeras substâncias que agem nele mesmo ou em outros órgãos, e sofre ação de substâncias vindas de outros lugares do organismo (hormônios). Portanto, uma doença que altere a disposição de tecido adiposo no nosso corpo tem inúmeras consequências no metabolismo.

Sem tecido adiposo para armazenar a gordura, ela tem que ir para algum lugar, e começa a se acumular no fígado (esteatose hepática), nas partículas do sangue (colesterol alto e, principalmente, triglicerídeos altos) e nos músculos. O excesso de gordura nos músculos aumenta a resistência à ação da insulina nas células e o excesso de gordura circulante diminui a capacidade do pâncreas de secretar insulina, levando ao diabetes.

Quais os tipos de lipodistrofias?

Formas familiares

Generalizada (lipodistrofia de Berardinelli-Seip): ausência quase completa do tecido adiposo, com musculatura muito evidente no corpo todo, inclusive face. É reconhecida já ao nascimento ou infância e esses pacientes têm crescimento acelerado, idade óssea avançada para a idade, desenvolvem esteatose hepática e aumento de triglicerídeos na infância e diabetes na adolescência.

berardinelli.jpg

-Parcial (síndrome de Dunnigan - 220 casos descritos): perda progressiva do tecido adiposo nos braços e pernas durante a puberdade e, posteriormente, em abdômen e tórax. A gordura é preservada ou aumentada em face, pescoço e intrabdominal.O diabetes, geralmente, se desenvolve a partir dos 20 anos, associado aos triglicerídeos elevados.

dunningan.jpg

Formas adquiridas

Generalizada (síndrome de Lawrence - menos de 100 casos descritos): semelhante à forma familiar, mas menos intensa. Início na infância ou adolescência em pacientes previamente saudáveis, pode evoluir em poucas semanas ou em vários anos. Evolui também com aumentos dos triglicerídeos, diabetes, e a esteatose hepática pode evoluir para cirrose em 20% dos casos.

Parcial (síndrome Barraquer-Simmonds - ~250 casos descritos): mais comum em mulheres, consiste em perda progressiva da gordura em face, pescoço, tórax, com direção descendente, iniciando-se na adolescência. A maioria dos pacientes não tem diabetes, mas apresenta doença renal ou doenças autoimunes (lúpus, dermatomiosites, etc)

Associada ao HIV: forma mais comum, associada às drogas para o tratamento da AIDS, que provocam lipoatrofia periférica (braços, pernas e face), com acúmulo de gordura central (abdômen, tórax, dorso). A progressão pode ser desfigurante e estigmatizante, podendo diminuir a aderência ao tratamento. Esses pacientes também apresentam diabetes, colesterol e triglicerídeos elevados e esteatose hepática.

lipodistrofia hiv.jpg

Qual o tratamento para as lipodistrofias?

O tratamento da lipodistrofia deve incluir não só as alterações metabólicas, mas também o comprometimento estético e psicológico.

Dieta com o mínimo possível de gordura é o primeiro passo do tratamento. Drogas antidiabéticas como Pioglitazona tem tido melhora no perfil metabólico, mas alguns pacientes ainda podem necessitar de fibratos (medicação para triglicerídeos elevados) e insulina para o diabetes.

O tratamento estético é feito com lipoaspiração em áreas de acúmulo ou preenchimento e implantes em áreas de atrofia.

Leia mais
Endocrinologia geral Patricia Baines Endocrinologia geral Patricia Baines

Hipotireoidismo

O que é o hipotireoidismo?


Hipotireoidismo é a doença em que há diminuição da produção de hormônios da tireoide (T3 – triiodotironina – e T4 – tiroxina).

tireoide.jpg

A tireoide produz os hormônios T3 e T4 sob estímulo do hormônio TSH (hormônio tireoestimulante), produzido na glândula hipófise, que fica no cérebro. Por sua vez, o TSH depende do estímulo do TRH (tireotropina), produzido no hipotálamo, em outra região do cérebro. E o T3 e T4 produzidos na tireoide caem na corrente sanguínea e agem em inúmeros órgãos do corpo, modulando suas ações.

 

Quais as causas do hipotireoidismo?

O hipotireoidismo pode ser causado por diminuição da produção de hormônios pela própria tireoide (hipotireoidismo primário), por diminuição da produção de TSH (hipotireoidismo secundário) ou de TRH (hipotireoidismo terciário).

Os hipotireoidismos secundário e terciário são raros. Já o primário é cada vez mais comum, provavelmente pela maior realização de exames para avaliar a tireoide.

A causa mais comum de hipotireoidismo primário é a tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune, ou seja, em que o próprio organismo produz anticorpos que atacam a tireoide, fazendo-a diminuir a produção de hormônios. Mas existem outras causas menos comuns:

-       deficiência de iodo (o iodo é essencial para a produção de T3 e T4)

-       uso de medicações que alteram a produção de T3 e T4 (lítio, iodeto, medicamentos para hipertireoidismo, citocinas, amiodarona)

-       doenças como amiloidose, hemocromatose, sarcoidose, etc

-       após procedimentos como cirurgia para retirada da tireoide, iodoterapia, radioterapia para outras doenças na região do pescoço

-       hipotireoidismo congênito (diagnosticado pelo teste do pezinho)

-       etc

 

Quais são os sintomas do hipotireoidismo?

O hipotireoidismo pode afetar todos os órgãos do nosso corpo. Geralmente, os sintomas iniciam-se muito lentamente e pode levar anos até que o diagnóstico seja feito, sendo descoberto por exames de rotina.

Os sintomas mais comuns estão relacionados abaixo, com a frequência com que ocorrem:

-     fraqueza (99%)

-       alterações cutâneas (99%)

-       pele seca (97%)

-       letargia (91%)

-       fala lenta (91%)

-       edema palpebral (90%)

-       frio (89%)

-       edema de face (79%)

-       palidez (67%)

-       esquecimento (66%)

-       constipação (61%)

-       ganho de peso (59%)

-       edema (55%)

-       anorexia (52%)

Pode haver, ainda, irregularidade menstrual em mulheres e alterações nos níveis de colesterol, com aumento do LDL (colesterol ruim).

 

Como é feito o diagnóstico do hipotireoidismo?

O diagnóstico do hipotireoidismo primário é feito pela dosagem abaixo do normal do T4, com TSH elevado. O T3 tem pouco valor para diagnóstico.

A primeira alteração que ocorre é a elevação do TSH, pois é a resposta da hipófise frente à menor produção dos hormônios tireoideanos. O cérebro tenta compensar a menor produção tireoideana, aumentando o estímulo. Quando apenas o TSH está elevado, com T4 normal, temos o chamado hipotireoidismo subclínico. Mas os hormônios devem ser reavaliados em 3 a 6 meses, na busca de uma evolução para o hipotireoidismo franco.

Apenas a fração livre do T4 é usada para o diagnóstico (T4L). O T4 total não tem valor, pois reflete a fração livre, que age nos órgãos alvo, mais a porção ligada a proteínas carreadoras, que não está agindo no momento. E a alteração das proteínas carreadoras pode alterar o valor do T4 total sem que seja realmente um hipotireoidismo, como ocorre na vigência de doenças crônicas ou quando há ingestão calórica insuficiente.

Além das alterações do T4L e TSH, pode-se dosar os autoanticorpos para diagnóstico da tireoidite de Hashimoto. Há aumento nos valores de antiTPO e antiTg. O valor acima do valor de referência define a doença autoimune, mas não importa se está um pouco aumentado ou muito aumentado; o valor dos anticorpos não define o tratamento.

Na existência da doença autoimune, também haverá alteração na ultrassonografia da tireoide, com presença de ecotextura heterogênea. Mas, mais uma vez, isso não define o tratamento, apenas indica qual a causa do problema.

No caso de hipotireoidismo secundário ou terciário, além dos baixos níveis de T4L, também há diminuição do TSH, já que a hipófise não produz o hormônio adequadamente.

 

Qual é o tratamento para o hipotireoidismo?

O tratamento para o hipotireoidismo é feito com reposição do hormônio, a levotiroxina. A dose média para adultos é ao redor de 1,0 a 1,5mcg/kg/dia, mas cada paciente deve ter sua dose individualizada.

O medicamento deve ser tomado sempre em jejum, 30 minutos antes de qualquer alimento ou líquido que não água, pois a absorção da droga é muito pequena. E deve-se evitar a administração junto com outros medicamentos.

O objetivo do tratamento é manter os níveis de TSH entre 0,5 e 2,5mU/dl e o T4L dentro dos valores normais, além da melhora dos sintomas.

Leia mais
Endocrinologia geral Patricia Baines Endocrinologia geral Patricia Baines

Diabetes mellitus

diabetes.jpeg

O que é o diabetes mellitus?

O diabetes mellitus (DM) é um grupo de doenças metabólicas caracterizado por uma secreção deficiente de insulina e/ou uma resistência à ação da insulina. Como conseqüência, há hiperglicemia (excesso de glicose no sangue), que causa inúmeros danos ao organismo, principalmente olhos, rins, coração e nervos.

O DM é um importante problema de saúde pública, em todo o mundo. Estima-se que existiam 239 milhões de diabéticos em 2010, e esse número vem crescendo progressivamente, em função do envelhecimento populacional e, sobretudo, da obesidade e sedentarismo. O aumento é observado, principalmente, em adultos e idosos, mas também vem ocorrendo entre crianças e adolescentes.

Essa doença representa uma enorme carga para os sistemas de saúde, por levar a maiores índices de hospitalização, maior necessidade de cuidados médicos, maior incidência de doenças cardiovasculares (infarto, derrame), cegueira, insuficiência renal e amputações.

 

Quais são os tipos de diabetes?

O DM pode ser classificado em:

1.     DM tipo 1 (DM1) – o pâncreas passa a não produzir insulina, essencial para o metabolismo adequado da glicose (para saber mais sobre a insulina, clique aqui)

O diagnóstico é mais comum em crianças, mas pode aparecer em adultos jovens. Em geral, o diagnóstico é feito após um quadro rápido e grave de emagrecimento, sede excessiva, urina excessiva e mal estar.

Esse tipo de diabetes é sempre tratado com injeções de insulina, desde o início.

Não é comum a associação com outros casos de diabetes na família.

 

2.     DM tipo 2 (DM2) – o organismo ainda produz insulina, mas o paciente apresenta resistência à sua ação, geralmente devido à obesidade. Ou seja, o organismo produz insulina, mas não o suficiente para o “tamanho” do corpo.

É mais comum em adultos e idosos, mas tem sido cada vez mais freqüente em crianças e adolescentes obesos.

Em geral, o diagnóstico é feito ao acaso, em exames de rotina, e o paciente permanece sem sintomas até que as complicações apareçam. Quando o diagnóstico é feito, geralmente os pacientes já apresentam a doença há 5 anos ou mais.

O tratamento é feito com medicamentos via oral ou outros injetáveis que não insulina, mas, se não for bem tratado, vai necessitar de insulina após alguns anos.

O DM2 tem importante história familiar. Há alto risco de desenvolver diabetes nos filhos de diabéticos tipo 2.

 

3.     Diabetes mellitus gestacional (DMG) – DM diagnosticado durante a gestação. O DMG pode trazer complicações para a mãe e o feto, com maior risco de aborto e complicações no parto, principalmente pelo tamanho exagerado dos bebês, e maior chance de o bebê apresentar hipoglicemia após no nascimento.

Pode ser tratado apenas com dieta e atividade física, mas, se for necessário o uso de medicações, o mais indicado é o uso de insulina.

Não aumenta o risco de malformações fetais como no caso de mulheres previamente diabéticas que engravidam. Mas aumenta muito a chance de a mulher se tornar diabética ao longo da vida.

 

4.     Outros tipos mais raros

LADA (Latent autoimmune diabetes of adults) – tem a mesma causa do DM1, mas aparece em adultos jovens, magros, com muitos parentes afetados.  Pode ser tratado com medicações via oral no início, mas evolui para o não funcionamento total do pâncreas em 6 a 12 meses, sendo necessário o uso de insulina.

Diabetes monogênico – MODY (maturity onset diabetes of the young) – tem vários subtipos, com diferentes graus de hiperglicemia e complicações associadas. É um tipo muito específico de diabetes, com forte relação genética. Há poucas famílias descritas com essa doença em todo o mundo.

 

5.     DM secundário – causado pelo  uso de algum medicamento que aumente a glicemia ou que cause resistência à ação da insulina, como os corticóides, medicamentos para pacientes com transplantes de órgãos, alguns anticoncepcionais, anti-hipertensivos, medicamentos psiquiátricos, etc.

 

O que é pré-diabetes?

Os pacientes com DM2 podem apresentar graves complicações em pequenas e grandes veias e artérias do organismo, levando a cegueira, insuficiência renal com necessidade de diálise, amputações de dedos, pés ou pernas, infarto, derrame, além de outras complicações.

Para que esses problemas possam ser evitados, passou-se a tentar identificar indivíduos de maior risco de desenvolver diabetes, os chamados pré-diabéticos.

As alterações na glicemia (glicose circulante na corrente sanguínea) podem ser vistas anos antes do diagnóstico do DM2. Os valores normais de glicemia de jejum são até 99mg/dl e o DM2 é diagnosticado com valores iguais ou maiores que 126mg/dl. Entre 100 e 125mg/dl, o paciente apresenta uma fase do pré-diabetes, denominada glicemia de jejum alterada (GJA).

Além da GJA, o paciente pode apresentar, também, a glicemia elevada após as refeições. A insulina é o hormônio responsável pela entrada da glicose nas células quando comemos. Se há resistência à ação da insulina, a glicose fica no sangue por mais tempo do que deveria, mantendo a glicemia elevada após a refeição. Um indivíduo sem diabetes tem valores de glicemia 2 horas após a refeição menores que 140mg/dl. No diabetes, os valores são de 200mg/dl ou mais. Se a glicemia está entre 140 e 199mg/dl, temos outra fase do pré-diabetes, chamada de intolerância à glicose (IG).

Esse diagnóstico é feito por um exame chamado TTOG (ou GT T, em inglês) – teste de tolerância oral à glicose. O paciente tem sua glicemia dosada em jejum, ingere um líquido com 75g de glicose e tem sua glicemia reavaliada após 2 horas.

Indivíduos com GJA e IG têm o dobro de chance de desenvolver diabetes se comparados a indivíduos com apenas uma alteração.

 

Quais são os sintomas do diabetes?

O tipo de DM que mais comumente apresenta sintomas é o tipo 1 (DM1). Em geral, o diabetes tipo 2 (DM2) e o diabetes gestacional são diagnosticados em exames de rotina, em pacientes assintomáticos. Mas, em quadros graves, apresentam os mesmos sintomas do DM1. O LADA se apresenta da mesma maneira que o DM1.

Os sintomas mais comuns são:

- emagrecimento rápido, mesmo com fome excessiva

- sede excessiva

- urina excessiva

- infecções freqüentes

- tontura

Geralmente, esses sintomas se iniciam após algum quadro de infecção, como pneumonia, infecção de urina, etc.

Em pacientes com DM2, se os níveis da glicose subirem rapidamente, por uma infecção, situação de estresse ou por comer algum alimento não indicado, pode haver tontura, mal estar, vômitos.

 

Como evitar o surgimento do diabetes?

Para evitar o diabetes, é importante conhecermos os fatores que aumentam o risco dessa doença.

Mas, devemos lembrar que apenas o DM2 pode ser evitado. O DM1, LADA e MODY têm pouca influência dos fatores ambientais no seu surgimento. São doenças determinadas geneticamente, há pouco o que se fazer para que elas não apareçam.

O DM2 também é determinado geneticamente, mas é uma doença chamada multifatorial. Além de ser determinada por muitos genes diferentes, precisa de influências ambientais para se desenvolver. Ou seja, você pode fazer parte de uma família de diabéticos, mas se mantiver cuidados adequados, pode não ser um deles!

Os fatores de risco principais para o DM2 são:

·        sobrepeso/ obesidade

·       sedentarismo

·       dieta inadequada (excesso de carboidratos, gorduras, refrigerantes, falta de cereais integrais, frutas, verduras)

·       tabagismo

·       etnia não-branca

·       antecedente de síndrome dos ovários policísticos (SOP)

·       antecedente de hipertensão arterial (HAS) e/ ou dislipidemia (alteração do colesterol)

·       ter tido um bebê muito grande para a idade gestacional (em geral, maior que 4kg)

·       alteração da glicemia de jejum ou após 2h em exames anteriores

·       ser filho ou irmão de alguém com DM2

A obesidade é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento do DM2. Além de diminuir a sensibilidade das células à insulina, diminui a percepção do pâncreas do nível de glicemia e ele produz menos insulina.

A associação do excesso de peso (ou circunferência abdominal aumentada) com alteração do colesterol, glicemia e pressão arterial caracteriza a síndrome metabólica. Dos pacientes que desenvolvem diabetes, metade apresenta a síndrome metabólica.

A genética é um fator muito importante. O risco de um parente de primeiro grau de diabético desenvolver DM2 é 5-10 vezes maior do que em indivíduos sem história familiar.

A prevenção ou, pelo menos, o atraso no surgimento do diabetes dependem de mudanças do estilo de vida. Perder peso (5 a 10% do peso original) ou mantê-lo normal e fazer atividade física regular têm mais benefícios na prevenção da doença do que o uso de medicamentos. E os efeitos benéficos dessas intervenções persistem por anos, se mantidas.

Além de diminuir o risco do DM2, as melhoras no estilo de vida também têm efeitos favoráveis na pressão arterial e nos níveis de colesterol, com melhora da qualidade de vida.

 

 Qual o tratamento para o diabetes?

O tratamento do diabetes (DM) depende de três pontos: dieta adequada, atividade física e medicamentos. Um paciente diabético que não cuida da alimentação não está fazendo seu tratamento corretamente e tem alto risco de desenvolver graves complicações.

O DM é uma doença progressiva, ou seja, a alteração do funcionamento da insulina piora progressivamente. E depende do paciente determinar se essa piora vai ser lenta ou rápida. Quanto mais rápida a piora, mais cedo aparecem as complicações. O paciente que faz o tratamento adequadamente pode não ter nenhuma complicação durante toda a sua vida.

1.     Alimentação

A alimentação correta do paciente com DM deveria ser seguida por todas as pessoas que querem cuidar de sua saúde. As principais orientações são:

Comer pouco em cada refeição, em intervalos de 3 horas

Comer alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais. As fibras ajudam a lentificar a absorção dos nutrientes do intestino para a corrente sanguínea, melhorando o efeito da insulina. Além disso, ajudam no funcionamento do trânsito intestinal.

Não misturar diferentes tipos de carboidratos na mesma refeição (pão, arroz, macarrão, batata, etc)

Evitar comidas gordurosas, frituras, molhos cremosos. O óleo deve ser usado na menor quantidade possível. Para cada três pessoas em uma família, deve ser usada, no máximo, uma lata de óleo ao mês.

As frutas também têm seu açúcar. O ideal é comer três frutas ao longo do dia. Preferir a fruta ao suco, mesmo que natural.

Evitar doces e açúcar.

Mastigar devagar.

 

2.     Atividade física

Assim como todas as outras pessoas, os pacientes diabéticos devem fazer atividade física regular. O ideal é fazer, pelo menos, 30 minutos de atividade ao dia, pelo menos, três vezes por semana.

Para melhora do diabetes, colesterol, pressão alta, várias pequenas caminhadas ao dia de 5 ou 10 minutos são eficazes. Mas, para perder peso, o esforço deve ser mantido por, pelo menos, 30 minutos contínuos.

 

3.     Medicamentos

Existem muitos tipos de medicamentos para o tratamento do diabetes, com diferentes ações. Eles podem aumentar a produção de insulina, diminuir a resistência à ação da insulina em tecidos como fígado ou tecido adiposo, estimular a produção de hormônios que melhoram a ação da insulina, além da própria insulina injetável.

No início, geralmente é possível manter um controle adequado com um medicamento apenas. Mas, com a evolução da doença, é comum o uso de vários medicamentos de classes diferentes.

O tratamento sempre deve ser individualizado para cada paciente, orientado por um endocrinologista.

Leia mais